- Que bom que chegou, Douglas.
- Ana?
- E quem mais poderia ser, chefinho? – perguntou uma outra garota me ajudando com o casaco.
- É que... mas como?
- Acalme-se. Apenas aproveite sem movimentos bruscos ou estresses. Você não quer acordar e perder tudo o que preparamos para você, não é mesmo?
- Desculpa, você é...
- Eu falei que essa ideia era uma perda de tempo, pessoal. Ele não conhece seus próprios personagens. Que merda de criador nós temos.
- Não fale assim, Phil. Ele está apenas confuso com tudo isso.
- Deixa comigo que eu te explico tudo. Meu nome é Bela e caso ainda não tenha notado isso não é apenas mais um sonho. Sim, somos todos seus personagens, reunidos em um cenário que tem elementos de cada uma de suas invenções. Lembra desse quadro? Dessa mesa? E essa máquina fotográfica?
- Vocês são todos meus personagens? – perguntei ainda descrente do que acabara de ouvir.
- Alguns bem antigos, outros nem tantos. Alguns geraram histórias fantásticas, outros pequenos rabiscos, mas estamos todos aqui, juntos, com você.
- Isso é uma loucura...
- Isso é um sonho. E logo você vai acordar desejando que tivesse a chance de perpetuá-lo. Mas logo esquecerá de tudo e voltaremos para a fantasia a que pertencemos.
- Ou seja, muito esforço para nada. O que estou fazendo aqui mesmo?
- Você deve ser o Phil...
- Venha, Douglas. Não ligue para o que ele fala. Você mais do que ninguém sabe como ele é.
- Advinha o que preparamos para o jantar?
- Betty? É você?
- Sim, sou eu, mas não fiz tudo sozinha. A Frida me ajudou com a torta de maçã e a Florence com os assados.
- Hmmm, torta de maçã. Teremos torta de limão também?
- Doug Spencer?
- Prazer em te conhecer pessoalmente - disse me abraçando com força - Sam, Matt... vocês não vão acreditar! Nós usamos o mesmo perfume!
Esta aí parte do que eu lembro. Já no fim da festa, antes que acordasse sedento por um copo d’água, caminhei até a poltrona e me sentei ao lado de Ana Griebler e Estela, a garota que havia me ajudado com o casaco.
- Vocês realmente me surpreenderam.
- Nada mais justo.
- Eu não sei nem como começar a agradecer pela companhia durante todos esses anos.
- Poderia então nos poupar de certar coisas, não é?
- Xiii.... não fala. Eu adoro esse mistério todo em torno da vida dela. Se você contar perde a graça.
- Claro, Douglas. Embora você já tenha todas as minhas respostas, será um prazer confirmá-las.
- Você pressentiu algo aqui essa noite? Digo, com clarões, tremedeiras, choques, desmaios?
- Fique tranquilo, meu amigo. Nós não te abandonaremos jamais!
- Não mesmo – reforçou Estela.
De repente estávamos todos em volta da mesa. Doutor Jefferson estendeu a taça de espumante lá no alto e disse:
- Desejamos a você nesse próximo ano, dois mil ideias!
Foi assim. Será assim.