Páginas

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Casamento real

www.alisonjackson.com/
"Admiro a Inglaterra por ainda ter um casamento REAL. A maioria dos que eu vejo hoje em dia é FAKE", observou Hallys Soares, que não sei se é de fato o autor da frase, mas merece todo o crédito por ter saído na frente e postado o trocadilho em seu feed de notícias do Facebook antes que qualquer um dos meus outros amigos.

Não se trata de acreditar ou não em casamentos, gostar ou não das cerimônias, apostar ou não na relação monogâmica. Estamos repletos de exceções às regras mais tradicionais de união matrimonial, que funcionam bem no dia a dia. Quem aí não conhece alguém que juntou (ou amigou) há tempos? Ou de casais que simplesmente assinaram os papeis longe de todo o oba oba e boca livre das grandes festas? E aqueles que não precisaram jurar (ou acreditar em ) fidelidade, abrindo a relação e lidando muito bem com isso?

Pior mesmo deve ser perceber que tudo o que você sonhou, acreditou e viveu, acabou ou pior, simplesmente nunca existiu. Frustração! Ninguém vai para o altar esperando algum dia enfrentar um processo de divórcio... Nem deveria. Acreditar e sonhar é que faz com que tudo, por mais bobo, inocente e fake que pareça, se torne real para quem vive. E a desconstrução de uma história perfeita a dois, torna qualquer sentimento real, aos olhos de terceiros, a coisa mais fake do mundo.

Eu admiro o da Inglaterra e a maioria dos casamentos que eu vejo. Fakes ou reais, eles acreditam. 




quinta-feira, 28 de abril de 2011

Voyeur

A vida da vizinha não era mais interessante do que a minha. Azar o dela em atravessar os dias entre o fogão cheio de panelas e a tábua cheia de roupas para passar. Preenchia sua vida com temperos e amaciantes, sem entender que - o que precisava mesmo - era apimentar a si própria e estender as suas ações em um varal infinito de possibilidades! Eu tinha certeza de que ela seria feliz e, claro, me faria também.

Poderia perder horas vigiando os seus movimentos, acompanhando o desenrolar de suas histórias, desejando vencer a timidez e ser um dos inúmeros amantes que entrariam por sua porta enquanto o marido estava no trabalho. Mas me contentaria apenas em ver... algo diferente, vocês sabem! Conseguiria visualizá-la dentro de alguma lingerie macia e provocante ou utilizando a mesa da cozinha para servir-se como prato principal.

De verdade eu estava cansado daquele avental! Conhecia todas as roupas e era capaz de adivinhar o menu do dia antes mesmo do cheiro invadir o meu quarto, um aviso de que em breve as suas crianças desceriam e se juntariam para almoçar. Ela poderia - e por mim deveria - ir muito além dos limites da cozinha e área de serviço que eu conseguia ver.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

De repente

Tiros, gritos e sangue ocupam as salas e tudo, de repente, não mais que de repente.

A terra treme sob seus pés e uma onda enorme de desespero, dor e incompreensão nos arremessa violentamente contra tudo que um dia fingimos acreditar: a escola é um lugar seguro.

Escola não é, e nunca foi, um lugar tranquilo, não se engane! Da pequena violência - que risca carros de professores, fura pneus de diretores e ofende, espanca e mata gays e gordos, por exemplo - até a atrocidade
explícita, nua e crua, de um aluno armado que atira a queima roupa contra seus antigos colegas.

Quantas histórias já tivemos (menores que essa, é claro!) e quantas outras ainda teremos para entender que segurança é sim um assunto que se trata desde o maternal? De repente, não mais que de repente, não há mais lugar seguro, pessoal. A terra desce, o chão treme, os tiros acertam e as ondas sucumbem até os mais fortes. E ao contrário do tom otimista, o mesmo choro que vem pela noite é ouvido durante toda a manhã, e vice-versa.

De repente, não mais que de repente, qual será a próxima tragédia que assistiremos horrorizados? Estaremos a salvo? Sinceramente, eu duvido. Deus queira que demore, mas do jeito que as coisas andam, é só uma questão de POUCO tempo, infelizmente.