E hoje quase que eu virei estatística. Não sei se sairia no Datena, porque ainda eram quatro horas da tarde e como sabemos o programa da Band só começa às seis e meia. Mas imaginem a situação: Rua Augusta esquina com Avenida Paulista, eu e minha estranha mania de conversar sozinho. Entre um passo e outro, um grito, um estrondo:
- Mãos para o alto! Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá!
Eu não sabia se corria, se olhava pra trás, se pedia perdão pelos meus pecados, se me jogava no chão ou se levantava as mãos para o alto como o moço de camisa branca atrás de mim acabara de gritar. Que situação, gente!
Uma olhadinha para trás e aquele objeto - prateado reluzente - apontado em direção a um ônibus amarelo Butantã. Corri, aliás, corremos. Eu, o homem de terno que estava na minha frente, uma mulher do outro lado da rua, todo mundo. “Tiro”, “Assalto”, “Meu Deus”... Vozes estranhas em minha cabeça, e eu entrei no primeiro lugar que vi: uma agência de banco.
Lá, a salvo, acompanhei todos os detalhes pelo vidro, tentando ao máximo disfarçar as pernas trêmulas. O moço de camisa branca, com a arma ainda em riste, entrava no ônibus. Suspense. Pouco tempo depois, muito pouco tempo mesmo, policiais chegaram e colocaram fim a parte do mistério. Como? O de blusa branca era policial? Detetive? A paisana? E aquele que agora estava algemado, caído no chão? Assaltante? Traficante? Algum investigado, suspeito? Estava ferido? Morto?
Informações foram e vieram tão velozes e imprecisas, quanto o que se passava dentro de mim. Medo, aflição, alívio. Procurei respostas, qualquer informação concreta e nada. Corri pra casa, vasculhei na internet, liguei no Brasil Urgente, e novamente nada. Quase virei estatística e nem uma notinha, Datena? Também, depois que um bebê de um ano e quatro meses morre após ser esquecido dentro do carro pelo próprio pai, um tiro próximo a uma das avenidas mais famosas e movimentadas do país não é nada! Sensacionalismo o meu em achar que viraria manchete. Quer saber? Estava mesmo era pra estatística: morre mais um em SP. Até quando, hein pessoal?
delivery A rua Augusta é uma importante via arterial da cidade de São Paulo, ligando os Jardins ao centro da urbe paulista.É uma rua de duas mãos que atinge seu ponto mais alto no cruzamento com a avenida Paulista,lugar do ocorrido.
- Mãos para o alto! Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá!
Eu não sabia se corria, se olhava pra trás, se pedia perdão pelos meus pecados, se me jogava no chão ou se levantava as mãos para o alto como o moço de camisa branca atrás de mim acabara de gritar. Que situação, gente!
Uma olhadinha para trás e aquele objeto - prateado reluzente - apontado em direção a um ônibus amarelo Butantã. Corri, aliás, corremos. Eu, o homem de terno que estava na minha frente, uma mulher do outro lado da rua, todo mundo. “Tiro”, “Assalto”, “Meu Deus”... Vozes estranhas em minha cabeça, e eu entrei no primeiro lugar que vi: uma agência de banco.
Lá, a salvo, acompanhei todos os detalhes pelo vidro, tentando ao máximo disfarçar as pernas trêmulas. O moço de camisa branca, com a arma ainda em riste, entrava no ônibus. Suspense. Pouco tempo depois, muito pouco tempo mesmo, policiais chegaram e colocaram fim a parte do mistério. Como? O de blusa branca era policial? Detetive? A paisana? E aquele que agora estava algemado, caído no chão? Assaltante? Traficante? Algum investigado, suspeito? Estava ferido? Morto?
Informações foram e vieram tão velozes e imprecisas, quanto o que se passava dentro de mim. Medo, aflição, alívio. Procurei respostas, qualquer informação concreta e nada. Corri pra casa, vasculhei na internet, liguei no Brasil Urgente, e novamente nada. Quase virei estatística e nem uma notinha, Datena? Também, depois que um bebê de um ano e quatro meses morre após ser esquecido dentro do carro pelo próprio pai, um tiro próximo a uma das avenidas mais famosas e movimentadas do país não é nada! Sensacionalismo o meu em achar que viraria manchete. Quer saber? Estava mesmo era pra estatística: morre mais um em SP. Até quando, hein pessoal?
delivery A rua Augusta é uma importante via arterial da cidade de São Paulo, ligando os Jardins ao centro da urbe paulista.É uma rua de duas mãos que atinge seu ponto mais alto no cruzamento com a avenida Paulista,lugar do ocorrido.
2 comentários:
Triste mas eh a realidade amigo.
São os ossos do oficio de ser apenas mais um na multidao!
Segurança, sorte e paz pra vc!
Um arrepio é o que sentimos ao ouvir, ou ler, a narrativa das cenas de violência que proliferam ao nosso redor. Mas esse arrepio é quase toda a reação que conseguimos esboçar, pois a violência tornou-se parte da vida, tanto quanto as flores e os pássaros. É uma realidade tão arraigada que eu, sinceramente, não consigo imaginar uma São Paulo tranqüila, um Rio de Janeiro pacífico, uma Belo Horizonte decente para se viver.
"Mataram mais um na praça da República? Como? A pontapés? Que coisa... Me passa a torrada". Será que tem de ser assim? Matarem mil no Iraque tornou-se tão trivial como esmagar um reles pernilongo na parede. Mas até dos pernilongos ocupou-se o poeta: "Nada sei sobre a vidinha do pernilongo que esmago, indiferente, na parede. Mas desconfio que era a única que ele tinha" (Hermínio Sargentim). E os homens, meu Deus? Quem vai ocupar-se deles?
Sinceramente prefiro um mundo só de flores e pássaros, sem violências. Utopia? Loucura? Sensatez? Faz tempo nem os santos têm ao certo a medida da maldade...
Desculpe-me, caro amigo, pelo longo texto em tom de desabafo, mas você, como sempre, faz-me pensar, refletir, sentir. E começo a desconfiar que sinto com a ponta dos dedos...
Um grande abraço
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