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terça-feira, 5 de outubro de 2010

O estepe da Cléo

Tudo certo. Não vou me desesperar. Li o manual e posso consultá-lo de novo, agora mesmo, apesar da falta de luz da madrugada. Sou um cara esperto, descolado e meio autodidata. Em todo o caso, não importa essa escuridão toda: posso ligar o farol e aproveitar a luz  das lanternas para reler tudo atenciosamente! O nome disso é "saber se virar". Saco... não consigo me concentrar! Quem é que escreveu essa merda? 

Talvez não seja necessário seguir passo a passo aquelas dez etapas. Sério, não pode ser tão dificil assim trocar uma roda! Afinal, qual a complicação em desenroscar algumas porcas e enroscá-las de novo? Sou homem e isso não deve ser nenhum problema para mim. Sabe como é... a gente nasce sabendo fazer essas coisas, não?

Não. Para começar demoro meia hora para achar o estepe. A culpa não é minha! Onde já se viu escondê-lo debaixo do carro? Desde que eu me entendo por gente - e via meu pai trocando pneus (Ok, não foram muitas vezes... talvez umas duas? Três? Sei lá... não lembro) - o reserva ficava no porta-malas, embaixo do carpete. Super simples de retirar, inclusive. No modelo do meu carro, tudo diferente e eu me pergunto porquê... Mais: por que não me importei com isso quando fui comprá-lo? Ah é... ganhei ele de presente no natal passado.

Pneu no chão, ferramentas nas mãos. Torço para que um carro passe e me socorra, mas os poucos que circulam por ali simplesmente ignoram os sinais D-E-S-E-S-P-E-R-A-D-O-S que faço com os braços. Comecei com um tchauzinho. Não deu certo. Levantei o braço para o segundo automóvel... em vão, também. No quinto, perdi a vergonha e sacudi o mais alto que pude, gritando "Pareeeee" descontroladamente. Eu teria parado... JURO que teria! Enfim, não dá mesmo para esperar um pouco de solidariedade hoje em dia. Ainda mais de madrugada.

Bom, só me resta arregaçar as mangas e trocá-lo. Se eu tivesse atrasado cinco minutos, talvez errasse o buraco e tudo isso não estaria acontecendo. Se eu não tivesse brigado feio com a Cléo e saído no meio da noite só por ter lido aquele estranho SMS do tal do Beto. Pensando agora, assim, friamente, não significa nada receber um torpedo no meio da noite, não é mesmo? E Beto pode mesmo ser um colega da faculdade... E "Pode falar? Beijão, Beto" não insinua necessariamente um caso, ou insinua?!?

Deveria ter acreditado no que ela disse. Não a parte final, quando partimos para as ofensas e ela me mandou embora, gritando para quem quisesse ouvir que eu não presto para nada, que sou um filhinho de papai, mimado. Piranha! É, essa parte não conta, porque ela falou no calor do momento, sem pensar. Afinal, ela seria uma idiota se namorasse um cara assim! Sou meio chato, ciumento e gosto tudo do meu jeito, mas filhinho de papai e mimado é BASTANTE exagerado. Eu trabalho, poxa! Na empresa do meu pai, está certo, mas não fico o dia inteiro em casa "curtindo" como ela disse.

Foco: preciso trocar o pneu. Não quero, mas não tenho muita escolha! Se eu pelo menos não tivesse jogado o celular contra a parede, demonstrando toda a ira que me consumia, já teria acionado o seguro, ou ligado para o meu pai, ou pedido perdão a Cléo por todos adjetivinhos que soltei sem querer. Ela é muito sensível, leva tudo a sério. Okay, eu devo ter pegado pesado, ou melhor, BEM pesado com uma ou outra palavra, mas convenhamos, eu seria uma idiota se namorasse uma garota assim, não?  

 Quem desenhou, aqui

2 comentários:

Temi disse...

hahah ootimo texto! ainda bem que sou mulher e por isso talvez nao tenha que aprender certas coisas hehehe
beijos e adorei o blog! sucesso!

to seguindo agora..hahah vc devia seguir o meu ne hahah só pra dar moral mesmo que o assunto nada te interesse =)

Frann disse...

Eu amo tudo q vc escreve!!rs..

Mto massa!
Da vontadee de ler mais e mais e mais...rss

:)